Por ser Sábado e um dos melhores dias de Primavera desde a nossa chegada, decidimos passá-lo ao ar livre e fazer o mais longo de três circuitos cicláveis em volta do lago (ca. 17 quilómetros). Milhares de pessoas gozaram as mesmas condições, bicicletando a bom bicicletar, fazendo jogging, piqueniques, pesca à linha, ou andando de barco. Os habitantes de Canberra gostam do lago. E têm razões para isso.
Sendo uma paisagem totalmente fabricada – o lago resulta do represamento das águas do Rio Molonglo – beneficia de um enquadramento orográfico e florestal muito particular. O vale inundado define-se no sopé da Black Mountain, uma colina que mantém a sua cobertura florestal natural: o “bush” original que dominava toda esta área ainda no início do século XX.
À distância, a Black Mountain contrasta, pelo tom escuro das folhas dos eucaliptos que a revestem, com o azul da água do lago e com os verdes intensos das suas bordaduras. Nessa colina, de cumeada arredondada, eleva-se uma enorme antena de telecomunicações. Quem se senta na margem esquerda a contemplar o lago e a colina, não pode deixar de apreciar a harmonia plástica deste conjunto. Até a antena, que é um elemento artificial, ajuda a dar dimensão e grandeza à colina que serve de pano de fundo.
A Black Mountain parece ter sido um lugar especial para os aborígenes. Aqui se reuniam e aqui celebravam os seus cantos. Com Bruce Chatwin (Songlines 1987 , editado em português pela Quetzal com o título O Canto Nómada), aprendi que um canto aborígene constituía um mapa e um indicador de direcções. Desde que se soubesse o canto, podia encontrar-se um caminho através do país. Toda a Austrália podia ser lida como uma partitura. Todos os rochedos, todos os riachos eram cantados ou tinham sido cantados. O canto e o território eram um só.
Desde há 100 anos, uma intervenção continuada alterou muito esta paisagem. Pergunto-me se a cultura aborígene pode e quer adaptar-se às transformações que impõem ao seu território e está a inventar novos cantos para a sua Austrália de sempre.
Parámos muito, aqui e acolá, sempre para observar e fotografar novas espécies de aves. Também paramos para descansar: parecendo fácil, o percurso é cheio de pequenos relevos que obrigam a puxar pelas pernas! E as nossas biclas, bastante perras, também não ajudam!
sábado, 24 de outubro de 2009
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Eu prefiro a esquerda
No Campus, o tráfego automóvel é muito moderado. Em proporção, circulam mais bicicletas do que veículos de quatro rodas. Os condutores são atentos, até de uma cordialidade inesperada, tanto com os ciclistas como com os peões. Por tudo isto, o risco de atropelamento deve ser reduzidíssimo.
Acontece que, nestas ruas largas e frequentemente livres de automóveis, eu penso muito antes de atravessar. A circulação faz-se pela esquerda e isso é-me totalmente irracional.
Nos últimos dois dias, ao final da tarde, demos umas voltas de bicicleta. Em cruzamentos e rotundas, não sei onde me encostar. Vale-me o Xico, mais familiarizado com as ex-colónias britânicas, a seguir à frente e a indicar o caminho.
Até nos passeios, tenho notado que as pessoas caminham pela esquerda. Quando são passagens apertadinhas, e quero deixar passar, não sei se me chego para um lado se para o outro.
Preciso de mais uns dias para me habituar. A estranheza há-de passar. Até porque, todos sabemos, eu prefiro a esquerda.
Acontece que, nestas ruas largas e frequentemente livres de automóveis, eu penso muito antes de atravessar. A circulação faz-se pela esquerda e isso é-me totalmente irracional.
Nos últimos dois dias, ao final da tarde, demos umas voltas de bicicleta. Em cruzamentos e rotundas, não sei onde me encostar. Vale-me o Xico, mais familiarizado com as ex-colónias britânicas, a seguir à frente e a indicar o caminho.
Até nos passeios, tenho notado que as pessoas caminham pela esquerda. Quando são passagens apertadinhas, e quero deixar passar, não sei se me chego para um lado se para o outro.
Preciso de mais uns dias para me habituar. A estranheza há-de passar. Até porque, todos sabemos, eu prefiro a esquerda.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Segundo inventário ornitológico
Nas redondezas do apartamento, próximo da biblioteca, e nas margens do lago e do rio fotografamos mais 7 espécies de aves (e uma repetida).
Sulphur-crested cockatoo, uma presença assídua na berma da Liversidge Street
Um caimão (Porphyrio porphyrio), a mesma espécie que em Portugal!
Superb Fairy-wren, pequenina mas uma autêntica jóia.
Australian Wood Duck, a pastar na margem do rio
Black Swans, em família.
(estamos habituados a vê-los nos jardins mas é da Austrália que são originários)
Eastern Rosella, há lá bicho mais colorido!
Noisy Miner, barulhentos e acrobáticos.
Pied Currawong, aquele que usa as cadeiras do alpendre, agora na margem do lago.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
O jet lag
Sabemos que o jet lag existe, talvez até já o tenhamos experimentado algumas vezes. Mesmo assim, ele aborrece-nos. Incomoda-nos sempre. À chegada, dá um frio, uma moleza, uma sensação de embrutecimento.
Cada um tem os seus pontos fracos e, com o jet lag, eles acusam-se. Nos primeiros dias, doíam-me as articulações. O Xico tinha tonturas. Compreendiamos, era o jet lag a massacrar. Mas ao fim de 4 dias, já não nos apetece acordar às 5 da manhã (e fingir que se continua a dormir), e tombar de sono às 8 da noite (e inventar entretenimentos que não resultam). Tudo isto para tentar “acertar”. Já não estamos com os sonos trocados. Estamos com os sonos desregulados, isto é, deslocados da nossa hora de Lisboa e da nossa hora de Canberra. Se estivessemos em Christchurch (mais 12 horas que em Lisboa), estaríamos perfeitamente adaptados.
Para Christchurch, vamos daqui a 3 semanas. Será que nessa altura estaremos a dormir pela hora de Canberra? Se calhar, sim. Que inferno!
Cada um tem os seus pontos fracos e, com o jet lag, eles acusam-se. Nos primeiros dias, doíam-me as articulações. O Xico tinha tonturas. Compreendiamos, era o jet lag a massacrar. Mas ao fim de 4 dias, já não nos apetece acordar às 5 da manhã (e fingir que se continua a dormir), e tombar de sono às 8 da noite (e inventar entretenimentos que não resultam). Tudo isto para tentar “acertar”. Já não estamos com os sonos trocados. Estamos com os sonos desregulados, isto é, deslocados da nossa hora de Lisboa e da nossa hora de Canberra. Se estivessemos em Christchurch (mais 12 horas que em Lisboa), estaríamos perfeitamente adaptados.
Para Christchurch, vamos daqui a 3 semanas. Será que nessa altura estaremos a dormir pela hora de Canberra? Se calhar, sim. Que inferno!
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Passeio ao Lago Burley Griffin
Depois de um dia que foi de trabalho, aproveitámos o fim da tarde, quando as temperaturas rondavam os 25º, e demos um pequeno passeio ao Lago Burley Griffin. Do nosso apartamento (marcador amarelo), estamos a menos de 10 minutos da margem!
Se quizerem saber quem foi Burley Griffin e um pouco da história da capital da Austrália vejam
Primeiro inventário ornitológico
As aves mostram-nos que viajámos para muito longe: são todas de espécies diferentes das que conhecemos. São grandes, coloridas e bastante tolerantes à aproximação das objectivas. Sem sair do Campus, sem nos esforçarmos nada, registámos todas estas 7 (in)vulgaridades.
Pied Currawong, na cadeira do alpendre
Galah, na berma da Liversidge Street
Galah, na berma da Liversidge Street
Crested Pigeon, também na beira da estrada
Magpie-lark, próximo da biblioteca
Australian Magpie, uma das espécies mais comuns
Red Wattlebird, também na berma da Liversidge Street
Aqui, até os Crimson Rosella andam de bicicleta!
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
O Campus e a Cidade
O Campus fica do lado ocidental da Cidade. É uma extensa área de ajardinados e restos do "bush" original, onde pontuam os edificios da Universidade. Alguns deles, sobressaem pela arquitectura particular.
Será mesmo um restaurante português? Alguém conhece a famosa "portuguese paella"?
Mas nada se eleva acima da copa dos azulados eucaliptos, daqui originários. Pontuam ainda as áreas relvadas, clareiras de verde mais brilhante, e esculturas de madeira, pedra e metal, a adornar esquinas e praças.
O Campus está dividido em quarteirões, assinalados por bandas coloridas em todas as placas de sinalização. Por isso, e porque começamos hoje a perceber melhor estas geografias, já não corremos o risco de nos perder.
Caminhando ao longo de grandes avenidas, como a de Liversidge Street, ou atravessando passagens secundárias, chegamos em 20 minutos à zona comercial de Canberra. Ontem e hoje, foi aí que nos abastecemos.
Aí encontramos também restaurantes de quase todas as nacionalidades. Até um restaurante portugês.
Será mesmo um restaurante português? Alguém conhece a famosa "portuguese paella"?
Fotos do apartamento em Liversidge Court
Sala, quarto, casa de banho e cozinha
A sala abre-se para um pequeno alpendre nas traseiras
As traseiras, vistas para outros blocos de apartamentos
domingo, 18 de outubro de 2009
No ar, de Sexta a Domingo
Não fosse ser tão longa e cansativa, e diríamos que viagem tinha sido excelente. Nem atrasos de maior, nem turbulências assustadoras. Os dois maiores voos (12 horas para Singapura e 7 horas daí até Sydney) foram passados no mesmo avião, uma carreira de australianos que regressavam dos “over seas”. Aí deram-nos "galinha chinesa" e uma "carne de vaca com tempero indonésio”. Pelo “cathering”, percebia-se que estávamos a voar para o oriente.
À chegada a Canberra (aprendi que a palavra se escreve com n antes de b, e se diz acentuando a primeira sílaba e sem arranhar os rr), estava à nossa espera um português que trabalha no centro de investigação sobre florestas. Numa "pickup", carro grande e pouco comum nas nossas paragens, trazia uma bicicleta para emprestar ao Xico. Maravilha! E quando nos deixou à porta do nosso apartamento no Campus da ANU (Australia National University), só desejámos um banho e umas horas de sono. Um sono que não deveria ser longo pois o Domingo estava então a começar.
O tempo custava a passar, e dos filmes disponíveis vi parte "Austrália", do "Che Guevara - Parte2" e da "Idade do Gelo II". O Xico também tentou o "Australia" e acabou por ver o "Anjos e Demónios". Ouvimos música. Depois dos jornais e das revistas de bordo, leitura levesinha, eu reli "O Dia dos Prodígios", da Lidia Jorge e o Xico terminou um Gabriel Garcia Marquez. Para substituir o velhinho que ficou parado em Lisboa, o Xico comprou um relógio no “dutty free” do avião, um relógio cor de chocolate que funciona com energia da luz.
Bebemos água, muita água como me recomendou o médico. E mesmo assim, com tudo o que isso depois implica, o tempo do avião passou devagarinho.
Na saída em Singapura, uma curtinha meia hora que parecia programada para vermos o pôr-do-sol, ainda tivemos tempo de ir ao Jardim dos Cactos. É um local onde, fora dos espaços globalizados e condicionados, se sente o ar quente e húmido dos trópicos. Os fumadores usam-no para dar azo ao vício.
Na saída em Singapura, uma curtinha meia hora que parecia programada para vermos o pôr-do-sol, ainda tivemos tempo de ir ao Jardim dos Cactos. É um local onde, fora dos espaços globalizados e condicionados, se sente o ar quente e húmido dos trópicos. Os fumadores usam-no para dar azo ao vício.
Em Sidney, fizemos a entrada neste grande país: o controlo de vistos e a verificação das malas não foi um bicho-de-sete-cabeças como nos tinham dito.
À chegada a Canberra (aprendi que a palavra se escreve com n antes de b, e se diz acentuando a primeira sílaba e sem arranhar os rr), estava à nossa espera um português que trabalha no centro de investigação sobre florestas. Numa "pickup", carro grande e pouco comum nas nossas paragens, trazia uma bicicleta para emprestar ao Xico. Maravilha! E quando nos deixou à porta do nosso apartamento no Campus da ANU (Australia National University), só desejámos um banho e umas horas de sono. Um sono que não deveria ser longo pois o Domingo estava então a começar.
Subscrever:
Mensagens (Atom)