sábado, 24 de outubro de 2009

Sábado, em volta do lago

Por ser Sábado e um dos melhores dias de Primavera desde a nossa chegada, decidimos passá-lo ao ar livre e fazer o mais longo de três circuitos cicláveis em volta do lago (ca. 17 quilómetros). Milhares de pessoas gozaram as mesmas condições, bicicletando a bom bicicletar, fazendo jogging, piqueniques, pesca à linha, ou andando de barco. Os habitantes de Canberra gostam do lago. E têm razões para isso.
Sendo uma paisagem totalmente fabricada – o lago resulta do represamento das águas do Rio Molonglo – beneficia de um enquadramento orográfico e florestal muito particular. O vale inundado define-se no sopé da Black Mountain, uma colina que mantém a sua cobertura florestal natural: o “bush” original que dominava toda esta área ainda no início do século XX.
À distância, a Black Mountain contrasta, pelo tom escuro das folhas dos eucaliptos que a revestem, com o azul da água do lago e com os verdes intensos das suas bordaduras. Nessa colina, de cumeada arredondada, eleva-se uma enorme antena de telecomunicações. Quem se senta na margem esquerda a contemplar o lago e a colina, não pode deixar de apreciar a harmonia plástica deste conjunto. Até a antena, que é um elemento artificial, ajuda a dar dimensão e grandeza à colina que serve de pano de fundo.
A Black Mountain parece ter sido um lugar especial para os aborígenes. Aqui se reuniam e aqui celebravam os seus cantos. Com Bruce Chatwin (Songlines 1987 , editado em português pela Quetzal com o título O Canto Nómada), aprendi que um canto aborígene constituía um mapa e um indicador de direcções. Desde que se soubesse o canto, podia encontrar-se um caminho através do país. Toda a Austrália podia ser lida como uma partitura. Todos os rochedos, todos os riachos eram cantados ou tinham sido cantados. O canto e o território eram um só.
Desde há 100 anos, uma intervenção continuada alterou muito esta paisagem. Pergunto-me se a cultura aborígene pode e quer adaptar-se às transformações que impõem ao seu território e está a inventar novos cantos para a sua Austrália de sempre.




Parámos muito, aqui e acolá, sempre para observar e fotografar novas espécies de aves. Também paramos para descansar: parecendo fácil, o percurso é cheio de pequenos relevos que obrigam a puxar pelas pernas! E as nossas biclas, bastante perras, também não ajudam!



O programa do dia compreendeu ainda uma paragem no Canberra Yacht Club, onde assistimos a uma competição de “barcos-dragão” e almocámos fish and chips e uma caneca de cerveja, no meio de uma multidão colorida e animada de remadores e respectivas claques.







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