Voamos sobre o Mar da Tasmânia, a mais de 3000 metros de altitude. Para trás, ficaram quase as paisagens australianas, recheadas de escarpas abruptas, bosques de eucaliptos, de pitosporos, de banksias, de cedros vermelhos, de fetos arbóreos e de palmeiras. Ficaram também as equidnas e os ornitorrincos (nos rios, bem os procuramos …), os únicos mamíferos que põem ovos, e os cangurus, wallabis, potorus e wombats, todos estes marsupiais.
Nos últimos 3 dias, deixámos Canberra (que numa das línguas aborígene significa “meeting point”) e a região do planalto para rumar à costa leste, cruzando a banda mais verde (e também a mais populosa, ainda assim extensamente selvagem) desta ilha que é um continente. E porque tudo é tão imenso e tão variado, foi possível, numa travessia de 300 quilómetros, visitar uma apreciável variedade de ecossistemas e paisagens cénicas.
Ao longo de toda a costa leste da Austrália, desenha-se uma linha longitudinal de escarpas acobreadas que marca uma fronteira geológica, climática e ecológica, que no território é designada por “Great Dividing Range”. Acima desta ruptura, o ambiente é mais seco e continental. Aí implantaram a capital. Os cursos de água que nascem no planalto, despenham-se em cascatas sobre encostas verdes e húmidas que descem até uma plataforma costeira. É nesta faixa, onde se condensa o ar do Pacifico, que as florestas das chuvas encontram as condições adequadas. Mais próximo da costa, outras florestas, ainda outras, e matos costeiros alternam com áreas agrícolas e urbanas.
No primeiro dia (10 de Novembro), saída do Campus da ANU pela manhã e parámos no canto norte do Morton National Park (Fitzroy Falls): por um trilho ao longo da escarpa atravessámos uma floresta com enormes eucaliptos, atravessando riachos e observando as cascatas e o manto verde que, a perder de vista se observava daí para leste. Depois, já de carro, descendo a escarpa por uma estrada sinuosa e inclinada, seguimos para Kangoroo Valley, uma área predominantemente agrícola, onde as pastagens de um verde vivo contrastam com o acinzentado dos eucaliptos. Daí, seguimos ainda para Jervis Bay National Park, área com a maior diversidade de habitats costeiros de toda a costa leste (incluindo mangais!). Foi em Currarong que pernoitámos, num B&B mesmo à beira da praia. Da varanda, disseram-nos, ainda no dia anterior tinha visto alguns cachalotes, em migração para as águas frias do Antárctico.
No dia seguinte, depois de um pequeno-almoço na varanda (com ovos mexidos mas sem a recompensa do avistamento desejado), seguimos por um trilho que contornava a península e nos levava por uma grande diversidade de matos e bosques, tocando praias de areia branca (as mais brancas do Mundo, gabam-se os australianos) e arribas rochosas. No regresso ao B&B, vestimos os fatos de banho e experimentámos a água agradavelmente tépida e o Sol excepcionalmente forte. A areia, finíssima e incomparavelmente alva, funcionam como um reflector perigoso para qualquer pele, mesmo para a de dois ibéricos saídos, não há muito tempo, da época balnear. Depois de uma merenda improvisada, corremos a visitar o outro lado da baia onde as praias são ainda mais brancas, saltámos até uma grande lagoa costeira onde habitam pelicanos e voltámos a Kangoroo Valley. Tínhamos que voltar porque a área é a melhor da Austrália para ver wombats, uma espécie de porquinhos marsupiais que, desde a nossa visita a Tindbinbilla, ansiávamos encontrar. Ao final da tarde, junto ao Campsite de Bendeela, mais de uma dezena destes cofres peludos, plácidos e amistosos como não sabíamos que seriam, pastavam na erva fresca. Daí a surpresa, e a maravilha! Pela noite, voltamos a Currarong, e deixamo-nos embalar pelo murmúrio das ondas. Depois duas jornadas de caminhadas, nas pernas já acumuladas umas dezenas de quilómetros, o corpo começava a fraquejar. Mas nada que 8 horas de sono não recuperassem.
No nosso último dia na Austrália, queríamos ainda visitar as florestas das chuvas. Por isso, saímos cedo de Jervis Bay e rumámos de novo para a encosta da escarpa. Em pleno Buderoo National Park, ao longo dum vale que se desenha abaixo da escarpa, encontra-se Minnamura Rainforest. Em língua aborígene, Minnamura significa “plenty of fish”.
Minnammura é um local incrivelmente belo, com uma vegetação pujante e uma particularidade ornitológica: nestas florestas, habita o maior passeriforme do Mundo. Talvez tenhamos ido ao sítio certo, talvez lá tenhamos estado na hora certa, nunca o saberemos. A verdade é que, depois de escutarmos o seu canto potente e variado, vimos um macho de ave-lira, em parada nupcial: por entre a vegetação, a esgravatar no chão, rodopiando e encurvando mexendo para trás e para a frente as suas compridas penas da cauda. Noutros dois pontos do percurso, a poucos metros do trilho, vimos ainda mais duas fêmeas, raspando na folhagem e nos musgos que revestiam as pedras, à procura de alimento.
Restava-nos preparar o regresso a Sidney, desviando-nos da estrada principal e atravessando o Royal National Park, o mais antigo parque nacional da Austrália e o segundo mais antigo do Mundo (depois de Yellowstone). Chegando às portas de Sidney, este ocupa uma área vastíssima a sul da cidade, do Pacífico até às montanhas, que aqui se aproximam da costa (tal como a Arrábida ou Sintra).
Entramos em Sidney sob uma intensa trovoada de fim de tarde e um calor abrasador. Estava explicado porque atravessáramos bosques tão verdes e tão densos, onde palmeiras se destacavam pelo meio de cedros vermelhos e eucaliptos! Jantamos no McDonalds e dormimos no Formula 1 do aeroporto. Não havia energia para mais, e aguardava-se uma noite também curta.
Às 6 da manhã, já preparávamos as malas. Depois de entregarmos o carro que nos passeara por tanta Natureza, preparámo-nos para embarcar com um saboroso pequeno-almoço.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
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Um dia que vá à Austrália, bem que posso dispensar a comprar de um qualquer guia de viagens...
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